POR: YARA MORAIS
Sim, é a mesma história chata de sempre. Chata, mas, essencial. Hoje, precisamos falar de James Meredith e da importância dos que lutam pelos direitos dos negros. Meredith, de ascendência afro-americana, nasceu em 25 de junho de 1933.
Vou te dar um exemplo ainda mais claro, só que dessa vez, real. Marcos Vinicius da Silva, 14 anos, era morador de uma comunidade no Rio de Janeiro. Há uma semana atrás, Marcos estava indo para a escola quando de repente, foi misteriosamente atingido por um tiro. De onde veio o tiro: do blindado da policia especial do RJ. (‘’Mãe, ele não viu que eu estava com o uniforme da escola, mãe?’’ – se você não se aterrorizou com este caso e, não se sensibilizou com essa situação, você já tem menos um ponto nessa ‘’brincadeira’’ toda)
Nós precisamos de mais negros nas cadeiras dos juízes de Direito. Precisamos de mais negros nos bancos. Precisamos de mais negros com CRM’s. Precisamos de mais negros no topo. Por isso, e agora falo com pais de crianças negras, é tão importante educar as nossas crianças negras como crianças negras. Para que nenhum Estado branco tente educá-las ilusoriamente como crianças brancas elitistas. Para que elas tenham valores e saibam lutar por esses valores. É necessário falar de tudo. É necessário se posicionar como descendente de escravos, aqueles, tragos ao Brasil e enganados por uma ‘’escola’’ européia que sempre se intitulou uma raça superior.
Sim, é a mesma história chata de sempre. Chata, mas, essencial. Hoje, precisamos falar de James Meredith e da importância dos que lutam pelos direitos dos negros. Meredith, de ascendência afro-americana, nasceu em 25 de junho de 1933.
Como muitos jovens americanos, se
alistou na Força Aérea dos Estados Unidos (1951-1960). Ao término da carreira militar,
tentou por duas vezes cursar a Universidade do Mississipi e, então, chegamos ao
ponto principal da história dele: teve o pedido negado em ambas as vezes. O
motivo? Era negro e a Universidade possuia uma política de segregação racial
que permitia apenas o ingresso de alunos brancos . Em outubro de 1962, James
Meredith conseguiu, após intervenção federal, o ingresso na Universidade do
Mississipi, se tornando o primeiro negro “aceito” na graduação da mesma.
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Foto: Divulgação (James Meredith na formatura da turma de Direito da Universidade do Mississipi) |
Mas, Yara... Por que falar desse
cara? Simplesmente para explicar que o problema do racismo e de vários outros
fatores englobados pelos direitos humanos, não começaram a ‘’florecer’’ na
década de 90. Não. Aliás, se você pensa que os direitos básicos e de segurança
no mundo funcionam de forma igualitária para negros e para brancos, você precisa
estudar, pesquisar, se aprofundar.
Para te ajudar, cito um outro
exemplo: Ruby Bridges. A primeira criança negra a estudar numa escola
caucasiana em Louisiana, também nos Estados Unidos. Moldados pelo ódio, os pais
das demais crianças impediam os seus filhos de ir à escola. Jogavam objetos em
Ruby no trajeto para escola. Uma criança de apenas 6 anos, sendo humilhada por
ser negra. Desistir? Ela nunca desistiu. Sua família ainda sofreu diversas
perseguições por pasmem: desejar e dar uma educação de melhor qualidade para
sua filha. Então, amigo (a), se você acha que a luta contra o racismo é em vão,
pare de ler por aqui.
Eu poderia passar horas e horas relatando
casos de racismo no mundo para te fazer entender o que os negros passam todos
os dias nas grandes metrópoles, mas, talvez eu não consiga. Você pode ainda se
imaginar às 4 da manhã, voltando de uma balada. Você branco, de olhos azuis. No
seu bolso – cocaína. Na mesma cena imagine um jovem negro, indo para o
trabalho, do outro lado da calçada. Mais à frente, uma viatura policial.
Responda se puder: quem a policia vai abordar primeiro? Se vc disse: o negro –
bingo! Você é muito esperto!
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Foto: Divulgação/ Ruby Bridges em sua sala. Ao fundo, quadro retrata ela quando criança sendo escoltada à caminho da escola |
Vou te dar um exemplo ainda mais claro, só que dessa vez, real. Marcos Vinicius da Silva, 14 anos, era morador de uma comunidade no Rio de Janeiro. Há uma semana atrás, Marcos estava indo para a escola quando de repente, foi misteriosamente atingido por um tiro. De onde veio o tiro: do blindado da policia especial do RJ. (‘’Mãe, ele não viu que eu estava com o uniforme da escola, mãe?’’ – se você não se aterrorizou com este caso e, não se sensibilizou com essa situação, você já tem menos um ponto nessa ‘’brincadeira’’ toda)
Bato na mesma tecla quantas vezes
forem necessárias: precisamos sim, falar de racismo, de cotas, de história.
Essa última, nunca me deixa na mão: você pode enganar à todos. Mas a história,
a história não perdoa. É certeiro. Existe uma coisa que eu espero deste país –
educação básica de qualidade à todos. Ou você acha mesmo que um aluno negro, da
periferia - eu digo negro porque se você
nasceu no Brasil e mora numa zona considerada de periferia, querido, mesmo que
seja branco, você não faz parte da seletiva raça ariana. Desculpa por destruir
seu pensamento de uma vida inteira. O cara da periferia, não tem as mesmas
oportunidades de educação do cara que nasceu na zona sul, estuda em um
colégio de 5,000 mensais e, desde pequeno é treinado para falar inglês,
espanhol e, até mesmo, comer com 7 talheres diferentes.
Não, não tem. Alguns estudos ainda
mostram que, nas universidades, 70% dos alunos são brancos enquanto 30% são
negros. Ainda te digo que, é fato: as universidades brasileiras são elitistas.
Yara, por que demônios vamos continuar falando dos negros? Porque é necessário.
Enquanto tivermos jovens de periferia sendo mortos, presidente golpista
tentando de todas as maneiras mexer na educação para pior, é necessário falar
do jovem da periferia. Do jovem preto da periferia. O jovem do futuro. As cotas
raciais são plenamente justificáveis partindo do nosso passado escravocrata,
longe de ser superado. E vou mais longe, não vamos falar apenas de cotas.
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Foto: Divulgação/ Velório do estudante Marcos Vinícius da Silva, 14 anos, morto por tiro da tropa especial da Polícia Militar do Rio |
Nós precisamos de mais negros nas cadeiras dos juízes de Direito. Precisamos de mais negros nos bancos. Precisamos de mais negros com CRM’s. Precisamos de mais negros no topo. Por isso, e agora falo com pais de crianças negras, é tão importante educar as nossas crianças negras como crianças negras. Para que nenhum Estado branco tente educá-las ilusoriamente como crianças brancas elitistas. Para que elas tenham valores e saibam lutar por esses valores. É necessário falar de tudo. É necessário se posicionar como descendente de escravos, aqueles, tragos ao Brasil e enganados por uma ‘’escola’’ européia que sempre se intitulou uma raça superior.
Na teoria é muito bonito bater no
peito e dizer que não precisou das cotas. Mas e na prática? Na prática não
passa de um racismo porco atravessar a rua durante a noite, cada vez que vê um
negro vindo em sua direção, achando que será assaltado.
Preciso fechar esse texto com uma
frase de Lukaku (procure conhecer a história dele se não conhece): ‘’quando eu
ia bem e fazia gols, os jornais me relatavam como o jovem artilheiro do time.
Quando eu ia mal, eles me relatavam como o jovem jogador descendente de
congoleses. É hora do povo negro vencer, para que conheçam o nosso nome e para
que acreditem em nós, sem que precisemos apresentar documentos provando que não
somos bandidos”!
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Foto: Divulgação/ Romelu Lukaku (Jogador do Manchester United e da Seleção da Bélgica) |
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